terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Mineirinho: O filho enjeitado da Copa


Futuro do ginásio ainda é incerto. Federações esportivas e expositores temem perder espaço


Fora do projeto de modernização do Mineirão com vistas à Copa do Mundo’2014, o ginásio do Mineirinho, que integra o complexo esportivo da Pampulha, passou de solução para as demandas geradas pelo evento a incógnita a menos de três anos do Mundial. Provável centro de imprensa, o local ainda não tem cronograma para reforma e, embora comece a sofrer as primeiras alterações em seu entorno, com a construção da passarela de acesso ao estádio vizinho, não se sabe quais mudanças serão necessárias para modernizar o espaço de 93 mil m², dos quais mais de 80 mil m² de área construída. 

As 11 federações esportivas que utilizam salas do Mineirinho e os mais de 2 mil expositores da Feira de Artesanato não sabem qual será seu destino caso o ginásio seja fechado para reforma. Segundo a Secretaria Extrordinária da Copa do Mundo (Secopa), nesta fase prevista pelo escopo do Mineirão as atividades vão continuar. Uma reforma na estrutura está em fase de planejamento e depende da anuência da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), proprietária do terreno. Segundo a assessoria de imprensa da faculdade, a UFMG começou as conversas com o governo.

O Estado de Minas apurou que a Secopa encomendou um estudo ao escritório BCMF Arquitetos, do arquiteto Bruno Campos, responsável pelo projeto executivo do Mineirão, para diagnosticar qual conceito o Mineirinho assumirá pós-2014. O resultado vai ser apresentado em novembro. Procurado, o escritório se limitou a responder apenas sobre o atual projeto.

Criado para ser o “Mineirão dos esportes especializados”, o ginásio Jornalista Felipe Henriot Drummond pode se firmar ainda mais como arena multiuso, atendendo nichos de mercado, como shows e encontros religiosos. No ano passado, dos 26 eventos realizados, 19 foram culturais e religiosos e apenas sete esportivos. Para a execução do projeto, o estado deve recorrer à parceria público-privada (PPP), a exemplo do estádio da Pampulha.

ALTO CUSTO A reforma do Mineirinho estava prevista no primeiro projeto básico de engenharia, entregue ao Comitê Organizador Local (COL) em 14 de janeiro de 2009, elaborado pelo Gerkan, Makg & Partner (GMP), em parceria com o escritório do arquiteto Gustavo Pena. No entanto, o alto custo – o valor atual de R$ 665,7 milhões poderia chegar a R$ 1,4 bilhão – inviabilizou a modernização. Pelo projeto, o ginásio receberia arquibancadas flexíveis e a área central seria rebaixada, além da construção de mais camarotes e cabines.

“O Mineirinho foi pensado para ser reformado junto com o estádio, mas perceberam que ele era tão grande quanto o Mineirão. Hoje, ele é um prédio com 31 anos, precisando ser reformado e remodelado. Ele não é apenas um ginásio poliesportivo, nem a cidade precisa de um desta dimensão. Ele pode virar um novo Expominas, se essa for a necessidade”, afirmou o presidente da Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais (Ademg), Ricardo Raso.

Caso o Mineirinho seja entregue a uma PPP, considerado caminho inevitável, pelo custo, a Ademg corre o risco de ser extinta ou se tornar uma autarquia sem função, uma vez que nos termos da lei que a criou (em 1965) e do Decreto nº 44.916, de 6/10/2008, tem por competência administrar o Mineirão e o Mineirinho, cabendo-lhe “promover obras de manutenção, ampliação, reforma e melhoria dos estádios sob sua administração”.

Uma turma ameaçada
“Hoje, ninguém pode falar que vai sair, nem ficar. Na realidade, vai haver uma mudança. O governo pode chegar à conclusão de que vai reformar o Mineirinho só para a Copa do Mundo, que é um evento. Ou pensar a longo prazo, deixar um legado. É a velha história de como encarar uma crise: uns veem como dificuldade, outros como oportunidade”, explica o presidente da Ademg, Ricardo Raso, que acredita em uma solução para o Mineirinho antes do fim do ano.

No começo do mês, uma cerca foi erguida no corredor de acesso, delimitando o espaço que será derrubado para a construção da rampa que vai ligar o Mineirinho ao hall do Mineirão. O ginásio auxiliar, com capacidade para 260 pessoas, criado no início da década de 1990 e hoje utilizado para eventos de luta, vai ser derrubado nos próximos dias.

Com as obras avançando, algumas federações esportivas que usam as salas do ginásio para prática esportiva ou como sede administrativa começaram a se mexer. A Federação Mineira de Arco e Flecha entregou um projeto à Secretaria de Esporte e Juventude (SEEJ) para a modernização do campo de treinamento, que tem cerca de 500m². A intenção, segundo o presidente José Raimundo Xavier, é transformar o espaço em um dos quatro principais centros de treinos profissionais do país. Os outros são em Campinas, Maricá-RJ e Brasília. O centro custaria entre R$ 400 mil e R$ 500 mil. O projeto, pago pela federação, custou cerca de R$ 15 mil.

São as 11 federações que usam as salas do ginásio. A Federação Mineira de Futebol de Mesa, por exemplo, tem a maior sede do país, reformada pelos sócios, com cerca de 300m² e 16 mesas oficiais. No entanto, nem todas as entidades têm condições de melhorar o espaço ou, até mesmo, de pagar o aluguel simbólico de R$ 100 mensais. “Não temos fins lucrativos e ficamos desesperados só de pensar em sair daqui. Não temos condições, pois somos uma entidade sem fins lucrativos. Até para pagar o aluguel, precisamos juntar R$ 20 de um, R$ 50 de outro”, conta o presidente da Federação Mineira de Boxe, Luiz Delmindo, o Falcão.

FALTA DE ESTRUTURA Um dos esportes mais ativos do ginásio e responsável por recordes de público, o vôlei é uma das modalidades que mais sofrem com a falta de reforma. Nas duas partidas do Brasil contra os EUA, pela Liga Mundial, em junho, foram gastos R$ 363 mil, quase o dobro do que custariam os confrontos em um ginásio reformado. Como o piso é de cimento, a Federação Mineira de Vôlei (FMV) precisa forrar o chão com placas de madeira para amortecimento, ao custo de R$ 33 mil. Para impedir que o vento entrasse nos vãos do teto, mais R$ 43 mil foram despendidos. “Está ficando inviável trazer a Seleção para o Mineirinho. O governo do estado e a Confederação Brasileira dividem um gasto que não teriam em outro local”, afirmou o presidente da federação, Carlos Rios, o Carlão.

Caso o ginásio seja fechado, outras 2 mil famílias terão motivos para se preocupar. A Feira de Artesanato, às quintas-feiras e domingos, funciona no local desde 2003, antes administrada pela Ademg e, há quatro anos, repassada à iniciativa privada. A empresa Publimig, que venceu a licitação, tem direito à exploração até novembro, podendo renovar automaticamente por um ano. Segundo o diretor Virgílio Araújo Filho, a feira, que já foi alvo do Ministério Público por irregularidade no funcionamento, está com alvará e documentação em dia. “Procurei a Ademg e pediram para eu aguardar até outubro, pois não há uma definição. Hoje estamos regularizados, vencemos uma licitação para funcionar”. 

Autor/fonte: Renan Damasceno - Estado de Minas


Nenhum comentário:

Postar um comentário